Sabemos, por ser óbvio demais, que o colesterol é um indicador de saúde cárdio-vascular que devemos manter sob absoluto controle. É algo a ter sempre em mente na hora de comer, ou na hora de se purgar os pecados da gula. Se a simples dieta não permite baixar o colesterol aos níveis que a medicina estabeleceu como aceitáveis, tomamos remédios (estatinas), para baixar o colesterol, mesmo que entre 70 e 90% do colesterol que circula no nosso corpo sejam produzidos por nós mesmos e não por ingestão. Em resumo, o colesterol é do mal. Poucos, muito poucos brasileiros conhecem ou tem coragem de falar, principalmente quando são do ramo da saúde, que não há relação justificável entre altos níveis de colesterol e doenças cárdio-vasculares.
Paralelamente, naquele país ao norte do equador que “inventou” os malefícios do colesterol, a pergunta sobre o colesterol ser “do bem” ou “do mal” sempre teve duas respostas, mas a minoria que considera o colesterol como sendo “do bem”, ou pelo menos neutro, só agora começa a ser ouvida. Quem não se lembra da recente absolvição do ovo na nossa dieta ocidental? Tem pouco mais de dois anos que começaram a surgir, aqui e ali, reportagens reabilitando o ovo. Curiosamente não eram claras (sem trocadilho) nem sobre porque o ovo tinha sido banido nem sobre porque o ovo estava sendo reabilitado. Eram evasivas do tipo “um ovo de vez em quando é até saudável”.
Particularmente gosto muito de ovos fritos, especialmente em gordura de galinha. Mas só como ovos caipiras, de galinhas que são criadas soltas ou parcialmente soltas. Daquelas que têm contato com o solo e comem “bichinhos”. Falo isso para mostrar a imensa diferença que existe entre os ovos que foram condenados, há 50 anos, que eram ovos saudáveis de galinhas idem e os ovos que agora foram reabilitados, padronizados na cor e no tamanho e gerados por galinhas confinadas, se alimentando apenas de grãos e de rações que contêm, muitas vezes, resíduos de outras galinhas. Além de terem uma nutrição fraca, que irá gerar ovos pouco nutritivos, estas galinhas exigem antibióticos e têm que ter seu bico cortado para não arrancarem as penas das companheiras ou tentarem devorá-las (é isso mesmo, galinhas confinadas, alimentadas com ração, atacam suas companheiras). A relação ômega 6 / ômega 3 nos ovos das galinhas da década de 60, quando se alimentavam de forma natural, era de aproximadamente 2. Hoje, com as galinhas alimentadas à base de milho e derivados, esta relação é de 30. Ou seja, os ovos atuais têm 30 vezes mais ômega 6 que ômega 3.
Resumindo: condenaram o ovo bom e reabilitaram um ovo ruim. Hoje o ovo lhe faz mal sim, não por causa do colesterol, nunca fez, mas porque ele vai lhe entupir de ômega 6.
Voltando ao colesterol, uma leitura de diversas fontes nos permitiu criar a convicção de que o colesterol, se não for um herói na nossa dieta (na dos bebês ele é mais que um herói, ele é imprescindível) é, no mínimo neutro, jamais vilão. A seguir eu comento algumas destas fontes. Enquanto você não estiver convencido de que o colesterol não é vilão, não pare de ler, vá às fontes e às referências das fontes. O que você irá economizar de estatinas, hoje ou no futuro, compensará o tempo dedicado ao assunto.
Um excelente artigo denominado A Verdade Sobre a Gordura Saturada (The Truth About Saturated Fat) escrito por Mary Enig e Sally Fallon, que pegamos da Internet numa tradução de Odi Melo (www.melnex.net), é altamente esclarecedor. As autoras são, respectivamente vice-presidente e presidente da Fundação Weston A. Price (EUA). Esta fundação dá divulgação e continuidade a um trabalho que o dentista Weston Price fez na primeira metade do século passado estudando a relação entre saúde e alimentação. O livro que ele escreveu sobre nutrição e degeneração física é muito esclarecedor e deveria ser de leitura obrigatória não só para todos os dentistas como para todos ligados às áreas de alimentação e saúde. A seguir reproduzimos alguns trechos do artigo sobre as gorduras saturadas.
- A maioria das pessoas ficaria surpresa ao saber que, na verdade, existe muito pouca evidência apoiando o argumento de que uma dieta com pouca gordura saturada e pouco colesterol realmente reduza as mortes por doenças cardíacas, ou que aumente, de uma forma ou de outra, o tempo de vida de alguém.
- O colesterol é necessário para um funcionamento adequado dos receptores de serotonina no cérebro. A serotonina é um produto químico natural do nosso corpo e que produz um sentimento de bem-estar. Baixos níveis de colesterol têm sido relacionados com comportamento agressivo e violento, depressão e tendências suicidas.
- Hoje, as doenças cardíacas causam pelo menos 40% das mortes nos EUA. Se, como nos tem sido dito, as doenças cardíacas resultam do consumo de gorduras saturadas, era de se esperar que fosse encontrado um aumento correspondente de gordura animal na dieta dos norte-americanos. Mas, na realidade, ocorre o contrário – durante um período de 60 anos, de 1910 a 1970, a proporção de gordura animal convencional na dieta norte-americana declinou de 83% para 62%, e o consumo de manteiga despencou de 8 kg anuais por pessoa para 1,8 kg.
- Num estudo britânico plurianual envolvendo milhares de homens, foi pedido que a metade deles reduzisse a gordura saturada e o colesterol em suas dietas, que parassem de fumar e aumentassem a quantia de gorduras insaturadas, como as margarinas, e de óleos vegetais. Após um ano, os que estavam na dieta “boa” tiveram 100% mais mortes do que os da dieta “ruim”, embora os homens na dieta “ruim” continuassem a fumar! Porém, ao descrever esse estudo, o autor ignorou esses resultados, em favor da conclusão politicamente correta: “As implicações para a política de saúde pública do Reino Unido são de que um programa preventivo, como esse que avaliamos nesta pesquisa, seria provavelmente eficaz…” 5
- O Lipid Research Clinics Coronary Primary Prevention Trial (LRC-CPPT), que custou 150 milhões de dólares, é o estudo mais freqüentemente citado pelos experts para justificar as dietas com pouca gordura. Na realidade, colesterol e gorduras saturadas via dieta alimentar não foram examinados nesse estudo, pois todos os participantes receberam uma dieta com pouco colesterol e pouca gordura saturada. Em vez disso, o estudo examinou os efeitos de um medicamento para baixar o colesterol. A análise estatística do estudo sugeriu uma redução de 24% nas taxas de doenças cardiocoronárias no grupo do medicamento, em comparação ao grupo do placebo. No entanto, as mortes por doenças não cardíacas no grupo do medicamento aumentaram – mortes por derrames, câncer, violência e suicídio.
Os cinco tópicos acima foram escolhidos para despertar o apetite de leitura do artigo na íntegra.
Adicionalmente, em uma nota, o tradutor nos informa da existência de um “grupo internacional de cientistas, médicos e pesquisadores acadêmicos de vários países chamado International Network of Cholesterol Skeptics (algo como “Rede Internacional de Profissionais Descrentes do Colesterol”), que questiona o dogma de que colesterol e gorduras saturadas na dieta alimentar causam doenças cardíacas”. Ou seja, foi criada uma cultura do colesterol e esta se estabeleceu de uma forma tão forte, tanto na mídia como em nossas escolas de medicina, que exige esforços consideráveis para a sua reversão.
Se é que esta reversão um dia poderá ocorrer, tendo em vista a grande indústria que se desenvolveu em torno do colesterol. A indústria de alimentos considerou o colesterol como uma dádiva, uma vez que as indicações de médicos e nutricionistas são dadas no sentido de evitar gorduras quase in natura, e que fizeram parte da dieta do homem desde milhões de anos (gorduras do corpo de animais) ou milhares de anos (manteiga), às quais a industrialização pouco valor pode agregar, por alimentos que agregam de médio a alto grau de industrialização, como óleos vegetais, margarinas, fibras, barrinhas de cereais, etc.
É inevitável citar também o posicionamento do médico Carlos Braghini Júnior em seu livro denominado “Ecologia Celular”. A partir da página 123 ele trata do tema “Colesterol é o Herói, não o Vilão”. Vale a pena citar alguns enfoques que ele aborda, de forma bastante acessível a quem não é da área de saúde.
- Se o colesterol é um componente vital das membranas celulares, isso explica que ele, isoladamente, não pode ser mal.
- E como poderia sê-lo, se o leite humano é totalmente rico em colesterol?
- O colesterol é necessário à fabricação de hormônios, participa da produção de sais biliares, responde pela estrutura de membrana que reveste as células, é antioxidante e protege a mucosa intestinal. Você viveria sem ele?
- E tem mais, o colesterol potencializa o trabalho dos receptores da serotonina. Por isso, quem toma estatinas (remédio para baixar o colesterol) tem maior propensão à depressão, e acaba tomando dois remédios em vez de um.
- O colesterol é um reparador de danos nos tecidos do corpo. Se alguma artéria tem algum dano, nosso organismo produz e distribui mais colesterol no sangue visando consertar este dano. Ou seja, o colesterol é conseqüência necessária e útil e não a causa do problema.
- A causa pode estar no metabolismo dos açúcares que ingerimos.
Você entendeu o que ele escreveu? Açúcar e não gorduras (naturais, naturalmente).
Outro médico brasileiro com os olhos abertos para esta problemática, Alexandre Feldman, especialista em enxaqueca, disponibilizou um texto bem interessante sobre colesterol.
Dos textos em português, há ainda o do Blog Enzimato e também o do Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio.
Em Portugal, o site Canibais e Reis faz constante batalha contra a demonização do colesterol, aliada a uma campanha contra o que eles denominam de “os margarineiros”, ou seja, a indústria dos óleos vegetais e seus incontáveis derivados.
Pingback: Colesterol, o injustiçado | Vida Primal
Bom Dia.
Estes artigos finais são interessantes mas falta-lhes a distinção entre LDL e HDL que seria bom falar deles também.
Obrigado pelo trabalho.
Cumpts.
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