No primeiro acaso, eu estava passeando de bicicleta numa calçada bem próximo à praia, quando uma cena na lateral da calçada me chamou a atenção. Um desses cachorros pequenos, de marca “poodle”, rosnou por duas vezes e ameaçou morder a mão da mulher que o levava. Aquietou-se ao levar um tapinha no focinho seguido das advertências de “isso não se faz”, “isso é porcaria” e “não se come porcaria”.
Pedalei mais alguns metros e retornei para ver o que tinha causado o alvoroço e descobri um peixe pequeno jogado junto ao meio fio. O instinto animal do que seria realmente uma comida de verdade chamou mais alto, a ponto de fazer o cachorro ameaçar morder. Aquela comida de verdade foi nominada de “porcaria” e o cão voltou a comer sua nutritiva ração adoecedora, mas limpinha.
Este fato ocorreu há mais de ano, mas como eu já estava lendo sobre alimentação, ficou gravado.
No segundo caso, eu estava na pesquisando na internet sobre “chantilly”. É que eu havia lido rapidamente os ingredientes de uma bisnaga de chantilly no supermercado e acabei comprando-a para fazer um post: e me surpreendeu saber que não se fazia mais chantilly com creme de leite. Isso resultou no texto do Chantilly Vigor, que foi postado recentemente e ainda haverá mais um texto sobre outra marca.
O acaso deste segundo caso é que, no meio da pesquisa, achei um site chamado www.chantillyexclusive.com, que não tem nada a ver com o chantilly que eu estava pesquisando, e trata da criação, cuidados e alimentação de buldogues franceses.
E na parte da alimentação, os autores afirmam que alimentavam seus animais com as melhores rações disponíveis no mercado e que, mesmo assim, os animais sofriam frequentes problemas de saúde devido à contaminação das rações industrializadas.
Buscaram uma alternativa e acharam a BARF (Biologically Appropriate Raw Food) ou “Alimento Cru Biologicamente Apropriado”. E explicam: a dieta consiste em ofertar alimentos crus, carnes com ossos na maior parte do tempo (os chamados “meaty bones”) e outros alimentos, como vegetais, frutas, ovos e peixes, criando assim uma dieta balanceada e biologicamente responsável.
Eu me surpreendi tanto quanto com o falso chantilly: quer dizer que a comida natural de um cão tem agora nome, sigla e definição?
Fora a surpresa, os autores do site confirmam o esperado: o resultado é surpreendente. Eles foram buscar alternativas à contaminação e descobriram que o problema maior era a nutrição. E relatam “temos visto: dentes limpos naturalmente, sem precisar de escovas ou cirurgia, ausência de gengivite, muito menos fezes, agora firmes e com cheiro reduzido e …”. Eles citam inúmeros outros pontos de melhora na saúde dos cães e explicam os motivos: a base da alimentação artificial canina são os grãos, principalmente milho, etc.. Se você cria animais, vale a pena (pelo menos para o seu animal) uma visita ao site.
Para mim ficou uma pergunta no ar: será que os editores do blogue perceberam que acontece o mesmo conosco? Não precisamos falar da maldita “ração humana” que, acreditem, já inventaram. Falemos apenas do trivial: a margarina é uma comida para humanos? O chantilly feito de gordura vegetal e mais uns dez ingredientes (dos quais nenhum é nata de leite) é alimento humano? (Não estamos questionando que seja gostoso.) E o que dizer de um tal de “leite de soja”?
Os autores do site fazem uma referência ao fato de os cachorros gostarem tanto das rações, e eles explicam: é que os produtores investem mais nos aditivos de sabor e aroma do que na qualidade nutricional da ração.
E o que é que vocês acham que fazem os fabricantes destes produtos para humanos contendo derivados de soja e ou de gordura vegetal? Sem falar no caso dos derivados do milho que aqui no Brasil ainda não é tão grave como nos EUA.
Amanhã pela manhã, quando você estiver passando margarina no seu pão (me arrepio só de escrever isso), tomando seu café descafeinado (mais um arrepio) com leite UHT desnatado (mais dois arrepios, um pelo desnatado e outro, muito maior ainda, pelo UHT) lembre de qual foi a última vez que você viu um gato comendo peixe (não vale em desenho animado) ou um cachorro roendo um osso (de verdade e não de plástico)?
Lembrou? E você, qual foi a última vez que comeu, durante pelo menos um dia inteiro, uma comida de verdade, para humanos (aquela que nos fez evoluir até aqui), e não estes produtos industrializados feitos para enganar nossa visão, nosso olfato e nosso gosto, aproveitando-se de nossa comodidade, pressa ou desconhecimento?
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