Capítulo 6 – Índios Norte-Americanos Primitivos e Modernizados

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Capítulo 6
Índios Norte-Americanos Primitivos e Modernizados

A natureza parece ter feito uma de suas demonstrações de larga escala, nas Américas, sobre o poder de adaptação de um único grupo racial às variações de clima estendendo-se desde as tórridas florestas dos trópicos ao Ártico. Os vários membros da raça índio americana parecem claramente ter vindo de uma origem comum. A rota pela qual eles alcançaram a América vindo da Ásia, como sugerido por antropólogos, foi pelo Estreito de Bering. Na última década, um engenheiro russo cruzou da Ásia à América pela capa de gelo do Mar de Bering, uma distância de noventa milhas (145 km). Se isto é possível agora, quão mais provável é que isso tenha sido possível em períodos mais antigos da história mundial, como, por exemplo, durante ou seguindo-se à última era do gelo, ou durante uma era do gelo anterior. O índio americano, assim, nos fornece uma oportunidade extraordinária de estudar ambas a capacidade de adaptação a ambientes diferentes e as variações que ambientes diferentes podem produzir em um único grupo racial. Que o índio de hoje não é, em geral, uma contraparte do residente nativo da época do descobrimento da América por Colombo, é claramente demonstrado ambos pelas evidências ósseas e pelos registros antigos.

Nosso problema envolveu a localização e estudo de grupos da linhagem original, se eles pudessem se encontrados, que estivessem vivendo de acordo com as tradições de sua raça e tão pouco afetado quanto fosse possível pela influência do homem branco. Pensando brevemente pode parecer impossível que tais grupos possam existir, mas, de fato, ainda existem grandes áreas do continente americano habitadas pela linhagem original vivendo em áreas ainda inexploradas. De modo a encontrar índios tão pouco mudados quanto possível por conta do contato com o homem branco, em particular, com o alimento do homem branco, eu fui ao norte do Canadá para a região dentro da cadeia das Montanhas Rochosas para estudar os índios do norte da Colúmbia Britânica e do território Yukon. Já que um avião não poderia ser usado, devido à falta de uma base de abastecimento de combustível para a viagem de volta; e já que a rota por água do MacKenzie era impraticável (uma expedição não poderia subir os canais que atravessam o Canadá pelo Rio MacKenzie e seus ramos e retornar na mesma estação), a rota escolhida foi aquela que adentra o território pelo Alasca no largo canal do Rio Stikine. Este rio recortou seus canais através das cadeias de montanhas Coast e Cascade e se origina na alta vertente oeste das Rochosas. Era particularmente desejado encontrar um grupo de índios que não pudesse obter vida animal do mar, nem mesmo o salmão de correnteza. Estes peixes não entram nos canais que deságuam no Ártico. Nós usamos um transporte marítimo de alta potência especialmente projetado para subir correntezas no Rio Stikine até o fim da navegação em Telegraph Creek. Neste ponto, grandes quantidades de alimentos modernos são armazenadas durante a breve abertura da temporada de navegação do verão para serem trocadas por peles durante o longo inverno. Um posto da Companhia da Baía de Hudson fora estabelecido neste ponto. Aqui, um caminhão foi fretado e nos levou pelo divisor de águas das Montanhas Rochosas para a cabeceira dos rios que fluem em direção norte para o Ártico. Neste posto avançado, dois guias foram empregados e um barco de alta potência foi fretado para fazer a viagem canais abaixo em direção ao Ártico pelos rios Diese e Liard. Isto tornou possível, no verão de 1933, fazer contato com grandes grupos de índios que saíram da região montanhosa de Pelly para trocar a sua caça de peles no último posto avançado da Companhia da Baía de Hudson. A maioria dos índios do Canadá está sob tratado com o governo canadense segundo o qual o governo dá a eles um montante anual per capita. Este acordo faz os índios do interior ir para os centros designados para obter o pagamento. Já que o acordo é baseado no tamanho da família, todas as crianças são levadas. Esse tratado, entretanto, nunca foi assinado pelos índios da Colúmbia Britânica e território Yukon. E, conseqüentemente, eles permaneceram como tribos nômades itinerantes seguindo os rebanhos de alces e renas na busca necessária para obter seus alimentos.

Os invernos rigorosos chegam a setenta graus abaixo de zero. Isto elimina a possibilidade de manter animais leiteiros ou plantar cereais e frutas. A dieta destes índios é quase totalmente limitada aos animais selvagens caçados. Isto torna o estudo deles extremamente importante. A sabedoria dessas pessoas em relação às leis da natureza, sua habilidade em se adaptar ao clima rigoroso, uma variedade de alimentos muito limitada e, freqüentemente, muito difíceis de obter, fez desenvolver uma habilidade na arte de viver confortavelmente na natureza bruta que foi alcançada por poucas outras tribos no mundo. O senso de honra entre essas tribos é tão forte que praticamente todas as cabanas, temporariamente desabitadas devido à ausência dos índios em sua viagem de caça, ficam totalmente desprotegidas de fechaduras e os pertences de valor para os índios são deixados em plena vista. As pessoas foram notadamente hospitaleiras e, onde não houvessem tirado proveito delas, muito bondosas. Muitas das mulheres nunca haviam visto uma mulher branca até verem a Sra. Price. Seu conhecimento em trabalhar a madeira, como expresso na habilidade em construir suas cabanas para serem mantidas confortavelmente aquecidas e protegidas do clima abaixo de zero, era notável. Seu planejamento para armazenar provisões e lenha fortemente enfatiza seu espírito comunitário. Quando um índio e sua família se mudava para um local em um lago ou rio, eles sempre cortavam algumas árvores a mais do que eles usariam como lenha para que houvesse um estoque repleto de madeira seca para futuros visitantes.

Eles viviam em uma região na qual ursos grisalhos eram comuns. Seu couro era altamente valorizado e eles capturavam muitos com armadilhas de isca. Seu conhecimento do uso de diferentes órgãos e tecidos dos animais para prover defesa contra certas enfermidades do corpo que chamamos de doenças degenerativas era impressionante. Quando eu perguntei a um velho índio, com um intérprete, por que os índios não tinham escorbuto, ele respondeu prontamente que isto era uma doença do homem branco. Eu perguntei se era possível para os índios terem escorbuto. Ele respondeu que era, mas disse que os índios sabem como prevenir e que o homem branco não sabe. Quando perguntado por que ele não diz ao homem branco como, sua resposta foi a de que o homem branco sabe demais para perguntar qualquer coisa ao índio. Eu então pedi se ele me contaria. Ele disse que contaria se o chefe dissesse que ele poderia. Ele foi ver o chefe e retornou em aproximadamente uma hora, dizendo que o chefe disse que ele poderia me contar porque eu era um amigo dos índios e tinha vindo para dizer aos índios para não comer o alimento da loja do homem branco. Ele me tomou pela mão para um local onde ambos sentamos. Ele então descreveu como quando um índio mata um alce, ele o abre em cima e atrás do alce, acima dos rins há o que ele descreveu como duas pequenas bolas na gordura. Estes, o índio disse, o índio pegaria e cortaria em quantos pedaços houvesse de índios pequenos e índios grandes na família e cada um comeria seu pedaço. Eles comeriam também as paredes do segundo estômago. Comendo essas partes do animal os índios ficariam livres de escorbuto, que é devido à falta de vitamina C. Os índios estavam conseguindo vitamina C das glândulas adrenais e de órgãos. A ciência moderna descobriu muito recentemente que as glândulas adrenais são as fontes mais ricas de vitamina C dentre todos os tecidos de animal ou planta. Nós achamos que esses índios foram muito cooperativos nos ajudando. Nós, claro, levamos presentes que pensamos que seriam apreciados por eles, e não tivemos dificuldade em fazer medições e tirar fotografias, nem, de fato, em fazer um estudo detalhado da condição de cada dente nas arcadas dentárias. Eu obtive amostras de saliva e de seus alimentos para análises químicas. Uma família índia típica na grande floresta é mostrada na Fig. 15.

Figura 15. Esta típica família de índios das florestas do norte do Canadá apresenta uma imagem de saúde excelente. Eles vivem cercados por uma abundância de alimento na forma de vida animal selvagem ao abrigo da grande floresta.

A condição dos dentes, a forma das arcadas dentárias e o formato do rosto eram excelentes. De fato, em muitos grupos examinados, não foi encontrado um único dente que já tivesse sido atacado por cáries. Em um exame de oitenta e sete indivíduos, com 2.464 dentes, foram encontrados somente quatro dentes que já tivessem sido atacados por cárie dentária. Isto é equivalente a 0,16 %. À medida que voltamos à civilização e estudamos, sucessivamente, grupos diferentes com quantidades crescentes de contato com a civilização moderna, vimos que a cárie dentária aumentou progressivamente, alcançando 25,5 % de todos os dentes examinados em Telegraph Creek, o ponto de contato com o alimento do homem branco. À medida que descemos o Rio Stikine para as cidades fronteiriças do Alasca, o problema da cárie dentária aumentou para 40 % de todos os dentes.

Um questionamento cuidadoso a respeito da presença de artrite foi feito nos grupos mais isolados. Nós não vimos nem ouvimos de algum caso nos grupos isolados. Entretanto, no ponto de contato com os alimentos da civilização moderna, foram encontrados muitos casos incluindo dez aleijados acamados em uma série de aproximadamente vinte casas de índios. Algumas outras enfermidades fizeram sua aparição aqui, particularmente, a tuberculose, que estava cobrando um alto preço das crianças nascidas neste centro. Na Fig. 16 são vistos dois casos típicos de tuberculose envolvendo as glândulas do pescoço. O sofrimento por cáries era trágico. Não havia dentistas, nenhum doutor disponível em centenas de milhas para aliviar o sofrimento.

Figura 16. No ponto de modernização que inclui o uso de alimentos do comércio moderno, o problema de saúde dos índios é muito diferente. Essas crianças índias modernizadas estão morrendo de tuberculose, o que raramente mata os primitivos.

O físico dos índios do extremo norte que ainda vivem em seus locais isolados e de acordo com sua sabedoria acumulada era excelente. Praticamente não havia dentes irregulares, incluindo nenhum terceiro molar impactado, como evidenciado pelo fato que todos indivíduos velhos o bastante para ter os molares erupcionados, tinham-nos fixos em posição e funcionando normalmente para mastigação. A excelência das arcadas dentárias é mostrada na Fig. 17. Onde os índios usavam o alimento do homem branco, cárie dentária era muito grave, como mostrado na Fig. 18. Na nova geração, após encontrar a civilização branca e usar seus alimentos, muitos desenvolveram dentes tortos, assim chamados, com arcadas dentárias deformadas, como visto na Fig. 19.

Figura 17. Aonde quer que os índios vivessem com seus alimentos nativos, principalmente carne de alce e de rena, seu desenvolvimento físico, incluído formato do rosto e da arcada dentária era excelente com imunidade quase completa a cáries dentárias. Estas duas mulheres e duas garotas são típicas.

Figura 18. Aonde quer que os índios tivessem acesso aos modernos alimentos comercializados, as condições dentárias eram extremamente ruins. Estes quatro indivíduos são típicos.

Figura 19. A praga do comércio do homem branco é visto em todo lugar nas fisionomias distorcidas até mesmo da primeira geração após a adoção pelos pais dos alimentos do comércio moderno. Estes jovens com suas arcadas dentárias deformadas são típicos. Note o desenvolvimento falho dos ossos faciais como evidenciado pelas narinas estreitas e dentes amontoados.

Também foi feito contato com representantes de grupos de índios primitivos relativamente isolados no distrito sul da Baía de Hudson. Estes grupos foram alcançados por uma ferrovia recentemente projetada que se estende em direção leste e norte a partir de Winnipeg em Manitoba e, assim, nós entramos em contato com os índios que apareceram dos canais que drenam a Baía de Hudson e de tão longe ao norte quanto da Baía de James. Eles apareceram para colocar a disposição peles em troca de munição, mantas etc. Já que este contato era feito somente uma ou duas vezes por ano, era quase impossível para os índios voltar com uma quantidade suficientes de alimentos do homem branco que tivesse muita influência em sua dieta total no ano. Eles ainda viviam da caça de animais selvagens da região. Como na região norte vista há pouco, seu principal animal de grande porte era o alce. Esses são índios sob tratado e muitos deles aparecem nesta fronteira para obter o dinheiro do governo e, conseqüentemente, eram obrigados a trazer suas famílias. O dinheiro aqui somava cinco dólares por cabeça, uma renda considerável ao trocar por mantas e outros equipamentos. Alguns desses pontos de contato ficavam na altura da terra que dividia as águas correntes norte e leste para a Baía James e a Baía Hudson ou sul para o Lago Superior. Esta era região histórica que era campo de encontro para as tribos das águas do norte com as tribos do distrito dos Grandes Lagos. Muitas batalhas foram travadas aqui. Para comparação com estes grupos mais primitivos da vertente da Baía Hudson e James, eu tive a oportunidade aqui de estudar famílias que fixaram residência ao longo da ferrovia ou em suas vizinhanças de modo que eles tinham vantagem na troca de peles por alimentos do homem branco moderno. Isto nos dá uma excelente oportunidade de estudar os efeitos da dieta moderna, da qual um exemplo é apresentado na Fig. 20. Esse índio e sua mulher formaram seus corpos antes do contato com o homem branco. Ele tem aproximadamente seis pés de altura (1,8 m). Ambos os pais tinham arcadas dentárias esplêndidas e rostos bem formados. Seus dentes são mostrados na Fig. 20 (em cima, à esquerda). Suas duas crianças mostradas na fotografia nasceram depois da adoção dos alimentos do homem branco comprados na ferrovia. Ambos respiram pela boca e têm arcadas dentárias estreitas e um significativo subdesenvolvimento do terço central do rosto. A garota mais velha tem tuberculose. Outro homem adulto aparece na Fig. 20 (em cima, à direita). Ele, como a geração que ele representa, tem arcadas dentárias excepcionalmente boas e rosto bem desenvolvido.

Figura 20. Estes índios primitivos estão no centro do Canadá. Os três pais se desenvolveram antes que seu distrito fosse alcançado pela civilização moderna. Note a boa forma física e facial deles em contraste com as narinas estreitas das duas crianças. A garota mais velha tem tuberculose. Elas são o produto do contato da civilização com seus pais primitivos.

Neste ponto, nós encontramos, de novo, muitos da geração mais nova doentes com tuberculose ou aleijados pela artrite. Dois destes aparecem na Fig. 21.

Figura 21. Estes são aleijados típicos encontrados no ponto de contato da nossa civilização moderna com os índios primitivos. O garoto da esquerda tem artrite em praticamente todas as juntas. Ele tem vários dentes com abscesso. O garoto da direita tem tuberculose da coluna vertebral.

Para maiores comparações dos grupos mais isolados e mais altamente modernizados, foi feito um estudo dos índios da maior reserva indígena individual do Canadá, localizada em Brantford em Ontário. Neste grupo existem aproximadamente 4.700 índios vivendo sob condições altamente modernizadas fornecidas pelo governo canadense. Eles vivem em uma terra muito fértil e muito próxima a uma cidade canadense moderna. É fornecido a cada chefe de família uma extensão de terra da qual ele geralmente tira uma renda suficiente que o permite ter um  automóvel. Eles conseguiam comprar não só artigos de necessidade e conforto de acordo com os padrões modernos do homem branco, mas muitos dos luxos também. O governo fornece um hospital e uma equipe bem administrados. Quando eu perguntei ao diretor deste hospital, Dr. Davis, qual era o principal uso do hospital na época (1933), ele disse que a demanda de leitos mudou completamente nos vinte oito anos em que ele esteve lá. Os principais serviços requisitados no hospital em 1933 eram relacionados a problemas de maternidade. Ele afirmou que durante o seu período ele viu três gerações de mães. As avós da atual geração pegariam uma manta e, sozinhas ou acompanhadas por um membro da família, se afastariam para o campo para dar a luz ao bebê e voltariam com ele para a cabana. Parecia ser um problema de pouca dificuldade ou preocupação. Ele afirmou que hoje as jovens mães desta última geração são trazidas para o seu hospital algumas vezes após dias de trabalho de parto. Elas são totalmente diferentes de suas avós ou até de suas mães quanto à capacidade e eficiência em matéria de reprodução. Ele afirmou que naquela manhã ele teve dois casos nos quais foi necessário interferência cirúrgica para fazer o nascimento.

Aqui, nós tivemos uma oportunidade de estudar os efeitos da modernização. Índios são grandes amantes dos esportes, especialmente de seu próprio jogo nacional, o lacrosse. Nós pudemos presenciar uma de suas competições com um time de outra reserva. Famílias de índios vieram em automóveis modernos, vestidos em roupas modernas e compraram refrigerante, balas e doces modernos em vendas típicas. Estes são índios altamente modernizados.

O grupo nesta reserva, composto de aproximadamente quatro mil e setecentos índios, pertence às seguintes tribos: Mohawks, Onondagas, Cayugas, Senecas, Oneidas e Delawares, compondo as Seis Nações ou grupo Iroquois. Um acréscimo posterior a este grupo foram os Tuscaroras das Carolinas. Embora houvesse muitos mestiços, havia também um grande número de famílias índias de sangue puro, de modo que existia uma oportunidade de estudar comparativamente os efeitos da mistura de índios com brancos. Como em investigações anteriores, um esforço especial foi feito para estudar as crianças de oito a dezesseis anos. Casos típicos foram selecionados de diferentes ambientes. Por exemplo, garotos e garotas selecionados de uma escola de treinamento chamada Instituto Mohawke, próximo à cidade de Brantford, representaram um tipo de ambiente. Há aproximadamente cento e sessenta alunos em treinamento lá e fomos informados que eles estudam metade do dia e trabalham metade do dia. Aos garotos é ensinado habilidades manuais e agricultura; às garotas, economia doméstica e confecção de roupas; e exercícios práticos tais que os prepararia para a posterior formação do lar. Enquanto a maioria dos garotos e garotas vinha dessa reserva, uns poucos eram aceitos de outras reservas. É de interesse que 77 % das crianças nesse Instituto sofreram de cárie dentária prematura e que 17 % de todos os dentes examinados já foram atacados por cárie dentária. Mas isto aconteceu, aparentemente, antes de entrada deles no Instituto, já que nós não encontramos um único caso de cárie ativa entre aqueles examinados, e isto é particularmente importante em ligação com a nutrição excelente deles. O Instituto mantinha um bom rebanho leiteiro e fornecia vegetais frescos, pão de trigo integral e limitava açúcar e farinha branca.

As crianças desse grupo foram comparadas com crianças aproximadamente da mesma idade em uma escola pública da reserva, onde foi descoberto que 90 % tinham tido cárie dentária e que, no presente, 70 % dos casos de cárie estava aparentemente ativa. È importante notar que, neste grupo, 28,5 % de todos os dentes examinados já haviam sido atacados por cáries.

Foi feito um estudo de pacientes no hospital da reserva, onde serviço gratuito de todo o tipo é fornecido. Nós descobrimos que 83 % haviam sofrido de cárie dentária e que 23,2 % de todos os dentes já tinham sido atacados por cáries.

Nós estávamos particularmente interessados nas condições encontradas nos lares, especialmente com as mães. Uma jovem mãe típica tinha aproximadamente metade de seus dentes atacados por cárie dentária, assim como seu filho de sete anos. O terço central de seu rosto era subdesenvolvido e todos os seus dentes superiores anteriores estava cariados até a linha da gengiva.

Foi feito um estudo de uma reserva indígena no estado de Nova York para comparação e avaliação da vida do típico índio americano moderno em relação à cárie dentária e nutrição. Para este estudo, foi entrevistado um bando de 450 na Reserva Tuscarora a nordeste das Cataratas do Niágara. Aqui novamente tivemos sorte em ver as pessoas em humor de férias já que o estudo foi feito no dia do Decoration Day e eventos anuais foram agendados, uma partida de lacrosse e um jogo de baseball, entre os times dos índios e times dos brancos de cidades adjacentes. Várias centenas de índios se reuniram para exibir o seu melhor em vestimentas, transporte e habilidades físicas. Havia evidências de uma similaridade nas feições nos índios mais velhos que não foram altamente modernizados e uma impressionante deficiência no desenvolvimento facial em muitos dos modernos.

Uma mãe típica foi estudada em sua casa. Ela tinha quatro crianças. Os dentes dela estavam destruídos pelas cáries. Ela era completamente moderna, pois ela tinha obturações de ouro em alguns de seus dentes. As raízes dos dentes faltantes não haviam sido extraídas. Vinte dos dentes dela tinham cáries ativas. Sua pequena filha de quatro anos já tinha doze dentes extremamente cariados. Outra filha de oito anos tinha dezesseis dentes cariados e seu filho de dez anos tinha seis. O marido estava de cama devido a uma complicação pulmonar aguda, sem dúvida tuberculose. As crianças estavam comendo sua refeição do meio dia quando chegamos, composta de um pão branco e alguns vegetais cozidos. Leite disponível somente para o pequeno bebê de colo. Neste grupo Tuscarora, 83 % daqueles examinados tinham cáries e 38 % de todos os dentes já tinham sido atacados por cáries. Todos aqueles estudados nesta reserva usavam produtos de farinha branca, nenhum usava leite abundantemente e somente uns poucos em quantidades limitadas. Foi dito a mim que em ambas reservas alguns anos atrás os índios plantavam trigo e mantinham vacas para fornecer um suprimento abundante de cereal natural e leite para suas famílias, mas mais tarde está prática foi interrompida. Agora, eles estavam comprando seu trigo na forma de farinha branca e seus vegetais em grande parte enlatados. Em ambas reservas eles estavam usando gorduras vegetais comerciais, compotas e marmeladas, produtos doces, caldas e doces abundantemente. É notável quão cedo a vida infantil adota os doces da civilização moderna.

De modo a fornecer uma maior amostra representativa dos índios norte americanos modernizados, eu fiz um estudo em uma reserva no Lago Winnipeg em Manitoba. Esta reserva fica a norte e leste de Winnipeg e é um tanto quanto altamente modernizada.

Essas pessoas foram alcançadas com muita dificuldade devido à proteção natural providenciada pela localização de sua reserva na boca do rio Brokenhead. Eles foram concedidos com terras férteis e ensinados com técnicas modernas de agricultura. Sua proximidade com um grande corpo de água razoavelmente bem suprido de peixe deu a eles uma oportunidade de assegurar pesca se eles estivessem dispostos a fazer o esforço para tal como seus ancestrais fizeram por séculos anteriores. Seus lares estavam em ruínas e apesar de suas terras serem supridas com gado e cavalos, os que encontramos estavam em pobres condições e em quantidades limitadas. Era fornecido às pessoas uma escola governamental e um agente governamental para auxiliar a providenciar suas necessidades e dar assistência material quando necessário. Eles estavam a uma distância razoavelmente pequena de hospitais e tinham serviços médicos modernos disponíveis. Apesar de todas essas vantagens, a condição física deles era muito pobre. Cárie era tão disseminada que 39,1 % de todos os dentes já foram afetados. Eles estavam vivendo quase exclusivamente de comidas modernas importadas, farinha branca, compotas, vegetais enlatados e quantidades abundantes de açúcar. Acima de 90 % dos indivíduos tinham cárie rampante. A condição física e o suprimento de suas necessidades eram muito menores do que a dos outros dois grupos anteriores. O sofrimento era evidente mesmo no final do verão.

Os índios até agora relatados viviam longe do mar com acesso a alimentos terrestres somente. Os índios da costa do Pacífico foram examinados para determinar o efeito de frutos do mar. Para encontrar evidências relativas às condições físicas e especialmente dentárias dos índios que habitavam o declive Pacífico mil anos ou mais atrás, foi feita uma visita ao Museu Vancouver em Vancouver, o qual felizmente possui exemplares esplendidamente preservados de períodos pré-históricos. Alguns desses crânios foram descobertos durante a travessia de um morro para estender uma estrada na cidade de Vancouver. Em cima havia uma floresta virgem de abetos verdes de grandes tamanhos e em baixo, no solo, havia troncos caídos preservados de outras grandes árvores. Vários pés abaixo destas, foram descobertos cemitérios contendo esqueletos de uma antiga raça índia. Esta coleção contém também crânios de vários lugares e de períodos pré-históricos. Os dentes são todos esplendidamente formados e livres de cáries. As arcadas são muito simétricas e os dentes em posição normal e regular.

É importante estudar as condições de seus sucessores vivos na mesma comunidade geral. Conseqüentemente, nós examinamos os dentes e a condição física geral dos índios em uma reserva em North Vancouver, situados de modo que eles tivessem as conveniências modernas e alimentos modernos. Neste grupo de crianças entre oito e quinze anos de idade, 36,9 % de todos os dentes examinados já haviam sido atacados por cáries. Não foi encontrado ninguém neste grupo que estivesse vivendo abundantemente com alimentos nativos.

A Ilha Vancouver com seu clima saudável é um dos locais de residência mais favorecidos na costa do Pacífico. Foi de particular interesse estudar os índios próximos a Victoria nesta ilha na reserva indígena Craigflower. De fato, a cidade de Victoria foi parcialmente construída na reserva indígena Craigfllower original. À medida que se tornou séria a necessidade pelo território reservado a eles, foi realizado um acordo no qual os índios eram induzidos a trocar aquelas terras pelas novas terras em um distrito adjacente no qual uma nova casa era construída de graça para cada família. Além de uma casa, era dado a cada família um lote de terras e uma soma em dinheiro, relatado ser de dez mil dólares. Isto permitiu a eles tornarem-se muito modernos e, conseqüentemente, muitos deles eram donos de automóveis e outros luxos modernos. Os efeitos físicos do uso de comidas de luxo, resultantes dos amplos fundos para comprar quaisquer comidas que eles pudessem desejar, eram significativos. Eles estavam muito próximos a serviços dentários qualificados e tinham treinamento prático em profilaxia oral. Apesar disto, 48,5 % de todos os dentes examinados já tinham sido atacados por cáries. Todo indivíduo examinado sofria de cáries. A dieta original dos índios da costa do Pacífico era, como veremos, predominante frutos do mar, os quais são tão abundantes hoje quanto sempre foram. Seria necessário uma real motivação para ir pescar peixe já que, agora, eles podem ser comprados enlatados no mercado. Como a maioria das pessoas modernas, eles estavam vivendo de produtos de farinha branca, comidas doces e massas doces.

Provavelmente poucas cidades da costa do Pacífico tiveram uma maior abundância e variedade de frutos do mar comestíveis, especialmente dos vários tipos de salmão, do que Ketchikan. Ela está belamente localizada em uma ilha e é a cidade mais ao sul do Alasca. Dentre os muitos peixes abundantes ao longo desta parte da costa do Pacífico está o oolachan ou candle fish. É um peixe pequeno, mas muito rico em óleo, tanto que ele recebe este nome por ser queimado como uma vela para fazer luz. Este óleo é coletado em grandes quantidades e usado como tempero em muitos de seus frutos do mar. Ele também é trocado com os índios do interior por peles e outros produtos. Um assentamento indígena foi estudado nesta cidade e foi descoberto que 46,6 % de todos os dentes examinados já haviam sido atacados por cáries. Em muitas da casas, indivíduos estavam doentes com tuberculose ou artrite. A tuberculose roubou muitas casas de uma ou mais de suas crianças.

Em Juneau, capital do Alasca, dois grupos foram estudados, um em um hospital do governo e outro em um assentamento indígena. No hospital, haviam ambos índios e esquimós, principalmente o primeiro. Foi relatado que setenta e cinco por cento dos pacientes foram trazidos por que eles tinham tuberculose e que alguns que tinham vindo por causa de um acidente ou outra situação também tinham tuberculose. Aproximadamente 50 % do total de pessoas registradas no hospital tinham menos de 21 anos de idade. A condição dentária era ruim, já que 39,1 % de todos os dentes examinados tinham sido atacados por cáries.

No assentamento indígena, foi estudado um grupo de primitivos idosos, cada um dos quais tinha dentições completas com arranjo normal das arcadas e sem cáries. Em um assentamento de índios modernos vivendo principalmente de comidas modernas, 40 % de todos os dentes tinham sido atacados por cáries.

Em Sitka, a antiga capital, dois grupos importantes foram estudados. Localizada aqui está a Escola Sheldon Jackson para garotos e garotas esquimós e índios, principalmente índios. Eles vieram de um território extensamente disperso pelo Alasca e representam os melhores exemplares físicos que podem, prontamente, estar seguros de ter as vantagens de uma educação. Inevitavelmente eles vieram predominantemente dos distritos modernizados. Neste grupo, 53,7 % de todos os dentes examinados já haviam sido atacados por cáries. Isto nos dá uma indicação das condições dentárias no grande número de distritos modernizados, os quais eles representam.

Em um assentamento em Sitka, foi estudado um grupo de índios de várias idades, e foi descoberto que 35,6 % de todos os dentes deles já haviam sido atacados por cáries. Foi encontrado um índio nativo bem conservado, setenta anos de idade, que veio para a cidade a partir de outro distrito. Ele afirma que sua dieta consistia principalmente de peixe, ova de peixe, alga e cervo. Seus dentes eram de uma qualidade muito alta e estavam totalmente livres de cáries antigas ou atuais. Ele é um exemplo esplêndido do produto da dieta nativa das pessoas da costa do Pacífico em qualquer período ou grau de civilização.

O médico local em Sitka gentilmente deu informações muito valiosas relativas à atitude dos índios nativos quanto a obter frutos do mar frescos quando alimentos muito satisfatórios poderiam ser facilmente obtidos de modo centralizado nas muitas lojas. Eles poderiam ir a um dos piers em praticamente qualquer época do ano e pescar ou conseguir peixe como eles costumavam fazer antes da chegada dos alimentos modernos, mas há um constante empenho em ser e viver como as pessoas brancas. Eles parecem achar que é um sinal de distinção comprar seus alimentos e que é degradante ter que procurar seu próprio alimento. Eles muito rapidamente vieram a depender de farinha branca e açúcar, compotas e vegetais enlatados; e preferem mais que o governo ou organização de caridade supra estes quando eles não podem comprar do que sair e garantir sua própria nutrição. Este médico afirmou que havia aproximadamente 800 brancos vivendo na cidade e aproximadamente 400 índios e que apesar desta diferença em quantidade, havia duas vezes mais crianças índias nascidas do que crianças brancas, mas pela época que essas crianças alcançavam seis anos de idade, havia mais crianças brancas vivendo do que crianças índias e mestiças. Isto, ele afirmou, era em grande parte devido à alta taxa de mortalidade infantil cuja causa mais freqüente é tuberculose. Apesar de não levar muitas décadas para registrar uma deterioração física distinta, uma deterioração parental acelera enormemente este processo. Apesar de defeitos físicos adquiridos pelos pais não serem transmitidos como tais, deficiências pré-natais podem se estabelecer devido aos defeitos físicos da mãe resultarem de sua nutrição deficitária, estas deficiências, junto com uma nutrição distorcida no recém-nascido e na primeira infância, vão além ao determinar se haverá um colapso físico na criança ou se a defesa normal do corpo será adequada para protegê-lo das várias infecções as quais ela pode ser exposta posteriormente.

Sitka forneceu a mais longa história de contato com o homem branco de quase todas as comunidades na costa do Pacífico. De fato, ela era um famoso porto muito antes de qualquer comunidade na costa do Pacífico dos Estados Unidos tivesse sido estabelecida. É de muito interesse que ela foi um centro de construção naval para embarcações no comércio com a Rússia. Suas fundições foram desenvolvidas tão eficientemente que os sinos dos antigos monastérios da Califórnia foram moldados nesta cidade pelos russos. Ela contém alguns dos melhores exemplos da antiga arquitetura russa, particularmente em sua catedral.

Anchorage é a principal cidade do oeste do Alasca, já que ela é não somente uma base para a ferrovia que segue para o norte para Fairbanks, mas uma base para companhias de aviação operando pelas várias partes do Alasca. Ela é, conseqüentemente, uma combinação de uma cidade costeira com suas atividades de varejo e uma base de atacado para fornecedores para o interior. Ela tem um excelente hospital do governo o qual provavelmente foi construído em torno da vida de um homem, o qual muitas pessoas nos disseram ser o homem mais amado em todo o Alasca. Ele é o Dr. Josef Romig, um cirurgião de grande habilidade e com experiência entre os esquimós e índios, ambos primitivos e modernizados, por mais de trinta e seis anos. Eu sou profundamente grato a ele por muita informação e por assistência em fazer contatos. Ele me levou, por exemplo, a muitas casa indígenas modernizadas típicas na cidade. Em uma, a avó, que veio da costa norte da Enseada de Cook para visitar sua filha, tinha sessenta e três anos de idade e estava totalmente livre de cáries e tinha perdido somente um de seus dentes. O filho dela, que a acompanhava, tinha vinte e quatro anos de idade. Ele tinha somente um dente que já havia sido atacado por cárie. A dieta deles tinha sido principalmente de carne de alce e cervo, peixe fresco e seco, uns poucos vegetais e na época algumas amoras. Recentemente, o filho tem obtido alguns alimentos modernos. A filha dela, vinte e nove anos de idade, casou com um homem branco e teve oito filhos. Ela juntamente com eles viviam totalmente de alimentos modernos. Vinte e um dos trinta e dois dentes dela foram arruinados pelas cáries. A dieta deles consistia amplamente de pão branco, caldas e batatas. Os filhos dela que examinamos variavam de cinco a doze anos de idade e nesta família 37 % de todos os dentes já haviam sido atacados por cáries, apesar da baixa idade das crianças. A mãe desta família aparece na Fig. 18 (em cima, à esquerda). É de grande importância que não somente a cárie era rampante, mas que havia significativa deformidade das arcadas dentárias e irregularidade dos dentes no caso das crianças.

Dentre as muitas informações de grande interesse fornecidas pelo Dr. Romig estavam fatos que se encaixavam bem no quadro moderno de associação de processos degenerativos modernos com a modernização. Ele afirmou que em seus trinta e seis anos de contato com essas pessoas ele nunca viu um caso de doença maligna entre os esquimós e índios verdadeiramente primitivos, embora isso ocorra freqüentemente quando eles se tornam modernizados. Ele descobriu, de modo similar, que os problemas cirúrgicos agudos que necessitam de operação em órgãos internos tais como a vesícula biliar, rins, estômago e apêndice não tendem a ocorrer entre os primitivos, mas são problemas muito comuns entre os esquimós e índios modernizados. Advindo de sua experiência, na qual ele viu grandes números dos esquimós e índios modernizados atacados por tuberculose, que tendia a ser progressiva e terminantemente fatal enquanto os pacientes continuassem sob condições de vida modernizadas, ele agora os manda de volta quando possível a condições primitivas e a uma dieta primitiva, sob a qual a taxa de mortalidade é muitíssimo menor do que sob condições modernizadas. De fato, ele relatou que a grande maioria dos atingidos se recuperam sob o tipo primitivo de vida e nutrição.

As instituições que foram organizadas para cuidar de órfãos e para educar garotos e garotas esquimós e índios fornecem uma oportunidade de estudar doenças. Uma instituição particularmente favorável está localizada em Eklutna na ferrovia ao norte de Anchorage. Muitos dos indivíduos na escola vieram de distritos tão isolados de meios de transporte que seu isolamento os compeliu a viver na maior parte de alimentos nativos, pelo menos durante a primeira infância. Eles vieram de distritos amplamente distribuídos pela península do Alasca. Devemos dar crédito ao gerenciamento desta instituição por preparar e armazenar salmão seco para uso no inverno. Os efeitos benéficos de seu bom programa nutricional eram evidentes. A porcentagem de dentes atacados por cáries era de 14,6 %. Uma grande porcentagem destes alunos eram miscigenados de esquimós ou índios nativos com brancos. O pai branco tinha sido, provavelmente, grande responsável pela presença deles nessa escola de treinamento. Havia muitos esquimós e índios de sangue puro de comunidades modernizadas onde eles viveram de alimentos modernos sua vida toda. Isto deu uma oportunidade de estudar o papel de deficiências nutricionais no desenvolvimento de deformidades e irregularidades nas feições faciais, no arranjo dos dentes e na inter-relação entre as arcadas dentárias. As típicas irregularidades e divergências do normal estavam presentes nos garotos e garotas esquimós e índios de sangue puro em taxas tão altas quanto nos miscigenados. Alguns dos jovens com ascendência miscigenada tinham belas feições.

Outro grupo institucional importante foi estudado em Seward no orfanato Jesse Lee Home, o qual foi estabelecido primeiro em Nome e foi movido para Seward para evitar o extremo isolamento daquele distrito. O instituto está localizado na Baía Resurrection, que é um dos portos mais bonitos do mundo. Ele dá abrigo e oportunidades de educação a esquimós e índios, principalmente miscigenados, de uma grande área do Alasca e especialmente da península Aleutian, das  ilhas Aleutian e do mar de Bering. Esses indivíduos, sejam miscigenados ou de sangue puro, vieram principalmente de lares que eram em grande parte modernizados. A incidência de cáries encontrada aqui era de 27,5 % de todos os dentes examinados. Aqui novamente todos os indivíduos foram atingidos. Apesar das condições de higiene excepcionalmente boas e de nutricionistas altamente treinados dessa instituição, uma enfermaria e enfermeiras treinadas, a tuberculose estava ceifando muitas vidas. Foi dito a mim que 60 % de todos os  estudantes que se mudaram com a escola a partir de Nome para este local haviam morrido de tuberculose. É senso comum que a tuberculose desempenhou um papel muito importante na dizimação da população índia e esquimó nas cidades e vilas da costa do Pacífico. Uma fase muito importante destas investigações é o desenvolvimento de nova luz no papel da nutrição em baixar as defesas desses indivíduos de tal modo que com sua baixa herança de fatores defensivos eles rapidamente se tornaram suscetíveis à  tuberculose.

O problema de avaliar a influência de um ambiente em particular no desenvolvimento racial e tribal é relativamente simples quando estudamos remanescentes contemporâneos de grupos raciais primitivos. Entretanto, grupos que viveram e desapareceram no passado não permitem um procedimento tão simples para fazer estimativas físicas. Felizmente, nós temos nos cemitérios não somente os esqueletos, mas também muitos dos utensílios usados na vida diária. Algumas vezes estes contêm amostras dos alimentos. Nós podemos também encontrar seus artigos de arte e equipamentos de caça. Apesar de que o período pode não estar claramente registrado, o conhecimento da história da cerâmica da tribo freqüentemente dá uma pista importante para as datas assim como o método de enterro. Enterros feitos antes do advento da era cristã irão, em muitos grupos, mostram os corpos em uma posição flexionada com os braços no colo, enquanto que em enterros cristãos os corpos são deitados  de bruços com os braços cruzados no peito. Por este símbolo, os enterros pré-colombianos podem ser rapidamente separados dos pós-colombianos.

Usando estas orientações, um estudo dos índios da Flórida, passados e presentes, permite comparar os pré-colombianos com aqueles que vivem hoje no mesmo território. Nós iremos, conseqüentemente, considerar o problema das cáries e o do formato do rosto e arcada dentária nos índios da Flórida comparando três grupos: sendo eles, os pré-colombianos, como evidenciado por um estudo do material craniano nos museus; as tribos de índios vivendo o mais isolados possível nas Everglades e nos Pântanos Cypress; e os índios da mesma linhagem que estão vivendo em contato com os alimentos da civilização moderna. Este último grupo vive ao longo da rota Tamiami e próximo a Miami. Em um estudo de muitas centenas de crânios tirados dos cemitérios aterrados do sul da Flórida, a incidência de cáries era tão baixa que constituía uma imunidade de aparentemente 100 %, já que em várias centenas de crânios não foi encontrado nem um único dente que tivesse sido atacado por cárie. Deformidade da arcada dentária e a mudança típica no formato do rosto devido a uma nutrição inadequada também estavam completamente ausentes, todas arcadas dentárias tinham um formato e relacionamento interdental tais que os colocavam dentro da classificação do normal. Estes estão ilustrados nas Figs. 22 e 23. O problema de alcançar os grupos isolados vivendo no meio dos Pântanos Cypress foi complicado devido ao fato dessas pessoas terem medo de todos os homens brancos devido à crença de que foi tirada vantagem excessiva deles em algumas de suas antigas tentativas de fazer acordo com os brancos. Com a assistência de três guias, um, um guia de seu próprio grupo, outro, um homem branco a quem eles confiavam e o terceiro, uma enfermeira do governo que era de muita ajuda em caso de doenças, nós conseguimos tirar as medidas, registros e fotografias desejados. Um grupo desses representantes mais primitivos é mostrado na Fig. 24. Embora seu território de caça tenha sido excessivamente invadido pelos caçadores brancos, eles ainda conseguiam manter um grau muito alto de excelência física e alta imunidade a cárie dentária. Somente quatro dentes em cada centena examinados haviam sido atacados por cáries.

Figura 22. Crânios de índios primitivos mostrando arcadas dentárias excelentes típicas do plano normal da Natureza. Note a esplêndida posição dos terceiro molares, os quais ficam tão freqüentemente defeituosos em posição e qualidade na nossa moderna civilização branca. Em muitos distritos onde eu fiz estudos entre índios primitivos e em muitas coleções de seus crânios, perto de 100 % dos dentes estavam livres de cárie dentária ou posição incorreta.

Figura 23. Os crânios de índios que foram descobertos em muitas partes dos Estados Unidos e Canadá mostram um grau de excelência comparável àqueles vistos nesta figura. Estes níveis de excelência eram a regra com eles, não a exceção como com nós. Os pais destes indivíduos sabiam o que eles e suas crianças deveriam comer!

Figura 24. Os índios Seminole vivendo hoje no sul da Flórida em grande parte afastados do contato com a civilização branca ainda produzem dentes e arcadas dentárias magníficas dos quais estes são típicos. Eles vivem na floresta Everglade e ainda obtêm os alimentos nativos.

Praticamente todas as arcadas dentárias estavam com contorno normal e ausência de distorções faciais. Em contraste com isso, os índios da Flórida que vivem hoje em contato com a civilização moderna apresentam uma imagem patética. Quarenta de cada centena de dentes examinados haviam sido atacados por cáries, tipicamente ilustrado na Fig. 25. Na última geração, muitas arcadas dentárias apresentaram uma deformação típica com amontoamento dos dentes e estreitamento do rosto, condições que foram encontradas em todos grupos humanos quando sob uma nutrição inadequada durante o período formativo e o de crescimento inicial. Um grupo destes é tipicamente ilustrado na Fig. 26.

Figura 25. Os índios Seminole da Flórida que vivem em contato com a nossa civilização moderna e seus alimentos sofrem de cárie dentária rampante.

Figura 26. Índios Seminole. Note a mudança no formato do rosto e da arcada dentária nas crianças deste grupo modernizado. Eles têm uma significativa falta de desenvolvimento dos ossos faciais com um estreitamento das narinas e arcadas dentárias com amontoamento dos dentes. Seus rostos estão estampados com o estrago que muitos pensam ser normal por ser tão comum entre nós.

É de interesse que a qualidade das evidências ósseas tiradas dos aterros apresentaram um desenvolvimento físico excepcionalmente bom e ausência de complicações nas articulações. Em contraste com isto, muitos dos indivíduos do grupo modernizado sofriam de deformidades avançadas do esqueleto devido a processos de artrite.

Os efeitos da excelente nutrição dos índios pré-colombianos estão indicados na espessura comparativa dos crânios. Na Fig. 27 são mostradas duas peças de um crânio pré-colombiano em contraste com um crânio moderno. O exemplar de uma mandíbula trepanada, mostrado na Fig. 27 (à direita) indica um conhecimento de cirurgia notável. As margens apresentam novo crescimento ósseo. A operação abriu um cisto.

Figura 27. Esquerda: exemplo da maior espessura dos crânios de índios pré-colombianos na Flórida do que dos crânios modernos. Direita: ilustração de cirurgia óssea de antigos índios da Flórida. Note a recuperação das margens da abertura trepanada em um cisto, da mandíbula. Isto é típico da cirurgia avançada dos índios Peruanos.

Para o estudo de um grupo de índios agora vivendo em um local alto a oeste, Albuquerque no Novo México foi visitado.

Vários outros estudos de índios foram feitos incluindo estudos de grupos vivos, cemitérios recentemente abertos e coleções de museus, todas suportando as descobertas registradas aqui. Eu estou em débito com os diretores e as equipes dessas instituições por sua assistência.

Apesar da ampla faixa de condições físicas e climáticas sob as quais índios primitivos viveram, sua incidência de cáries enquanto sob seus alimentos nativos sempre foi próximo de zero; ao passo que, os índios modernizados desses grupos apresentaram uma incidência muito alta de cárie dentária. Segue um sumário das porcentagens: Índios Primitivos: Montanha Pelly 0,16 %, Juneau 0,00 %, Flórida pré-colombiana 0,00 %, Seminoles da Flórida 4,0 %. Índios Modernizados: Telegraph Creek 25,5 %, Fronteira do Alasca 40,0 %, Instituto Mohawk 17 %, Escola Pública da Reserva Brantford 28,5 %, Hospital da Reserva de Brantford 23,2 %, Reserva Tuscarora 38,0 %, Reserva do Lago Winnipeg 39,1 %, Reserva North Vancouver 36,9 %, Reserva Indígena Craigflower 48,5 %, Ketchikan 46,6 %, Hospital Juneau 39,1 %, Escola Sheldon Jackson 53,7 %, Sitka 35,6 %, Eklutna 14,6 %, Orfanato Jesse Lee Home em Seward 27,6 % e Seminoles da Flórida 40,0 %.

Os alimentos usados pelos primitivos variam de acordo com a localização e o clima. Os alimentos dos grupos modernizados em todos os casos eram os típicos alimentos do comércio do homem branco.

Enquanto que os grupos primitivos apresentavam constantemente rostos e arcadas dentárias bem formados reproduzindo o padrão da tribo, a nova geração, após a adoção dos alimentos do homem branco, mostrou mudanças significativas no formato do rosto e da arcada dentária.

Os índios, como várias raças primitivas que eu estudei, estão cientes do fato de que sua degeneração é de algum modo ocasionada pelo seu contato com o homem branco. O desgosto do índio americano pela civilização branca moderna foi enfatizada por muitos escritores. Em meus estudos entre os índios Seminole da Flórida, eu encontrei grande dificuldade em me comunicar com ou fazer exames dos Seminoles isolados vivendo no meio das Everglades e dos Pântanos Cypress. Felizmente, eu tive a apta assistência de um de sua prórpia tribo, uma enfermeira do governo que foi de muita ajuda a eles e também de um homem branco que se tornou amigo deles e em quem eles confiavam. Com a assistência deles eu consegui realizar estudos muito detalhados. Foi de interesse, entretanto, que, quando nós chegávamos a um assentamento no mato, nós praticamente sempre o encontrávamos desabitado. Nosso guia índio ia aos arbustos na volta e chamava as pessoas garantindo a elas que era de seu interesse aparecer, o que eles finalmente faziam. Foi dito a mim que esta atitude veio da crença por parte deles de que seus tratados tivessem sido violados. Essas mulheres índia Seminole isoladas tinham a  reputação de dar as costas a todos os homens brancos.

Um informe jornalístico(1) dos Estados Unidos traz um artigo com o título “Tribos ‘Fartas’ Procuram Solidão, Índios Desgostam Civilização, Pedem Terra Fechada ao Homem Branco”. O artigo continua:

-A Agência de Assuntos Indígenas revelou hoje que cinco tribos de índios em Oklahoma estão “fartas” da civilização branca e querem novas terras tribais isoladas.

-Tão difundido é o descontentamento entre os 100.000 índios vivendo em Oklahoma, disseram oficiais, que estudos sérios estão feitos quanto à possibilidade de providenciar novas terras onde o pele-vermelha possa caçar e pescar como seus ancestrais faziam.

-O descontentamento vinha fermentando há muito tempo como resultado de um aumento da população indígena, diminuição das terras indígenas e condições econômicas não satisfatórias. Isto foi trazido oficialmente à atenção dos oficiais da agência vários dias atrás quando uma delegação, liderada por Jack Gouge, um ìndio Creek de Hanna, Okla., disse ao Comissário de Assuntos Indígenas John Collier que a maioria dos índios de Oklahoma queriam novas terras tribais afastadas da civilização branca.

-Tão ansioso está seu povo para escapar do homem branco e suas influências, disse Jack Gouge, que uma organização de aproximadamente 1000 índios foi formada para reportar as demandas. Ela é conhecida como as “Quatro Mães”, aparentemente representando quatro das “tribos civilizadas” – os Creeks, Choctaws, Cherokees e Chickasaws.

-A quinta tribo civilizada, os Seminoles de Oklahoma, estão negociando com o governo mexicano por terras tribais naquele país.

-Essas tribos são descritas como “civilizadas” devido ao alto grau de cultura que eles alcançaram em suas terras tribais originais ao longo da costa leste. À medida que suas terras ao leste se tornaram valiosas, os índios foram movidos para a área que agora é Oklahoma. Na virada do século, entretanto, com a descoberta de óleo lá, as novas terras tribais foram desmanchadas. Os índios foram removidos forçadamente para pequenas extensões de terras apesar de seu desejo de permanecerem juntos. Oficiais da Agência Indígena não escondem seu rancor pela “traição” do homem branco. Um oficial observou que aproximadamente 300 tratados haviam sido assinados com os índios e que praticamente todos eles haviam sido violados.

Será muita sorte se no interesse do avanço científico e humano um programa tal como este vier a ser realizado de modo a permitir que esses índios vivam de acordo com a sabedoria acumulada de suas várias tribos. A preservação deles em isolamento preservaria sua cultura. A maior herança do homem branco hoje é a sabedoria acumulada da raça humana.

REFERÊNCIA

1 Tribes “Fed Up” Seek Solitude. Cleveland Press, 19 de Junho de 1938.

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