Citação: Comida Tecnológica

Um campo cultivado de milho, ou de qualquer outro produto agrícola, é tão manufaturado ou fabricado pelo homem quanto um microchip, uma revista ou um míssil.

Fonte: Livro Uma História Comestível da Humanidade – Ton Standage, pág. 15.

Contexto: o autor faz referência à tecnologia de cruzamento e seleção de espécies, utilizada ao longo de milênios, ao maquinário e combustíveis utilizados, aos adubos químicos e pesticidas aplicados. Enfim, a todo o aparato tecnológico usado na agricultura moderna, para o bem ou para o mal.

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Estão tentando nos enganar – Biscoito PASSATEMPO

Propaganda enganosa da Nestlé?

Se olharmos com atenção os detalhes da “fachada” do produto biscoito recheado Passatempo, percebe-se a seguinte frase:

“Biscoito recheado sabor chocolate alpino rico em cálcio.”

Vá aos ingredientes do Passatempo: o único componente que pode ter alguma relação com a frase destacada é o cacau em pó. Mas cacau em pó é ingrediente de quase todos os chocolates do mercado.

Para não parecer que a afirmação é leviana, vamos ao site da Nestlé. Quem sabe o Alpino e o Passatempo têm algo em comum que seja diferente dos demais produtos?

Ingredientes do Chocolate Alpino: açúcar, cacau, leite em pó integral, soro de leite em pó, gordura vegetal, gordura anidra de leite, emulsificantes lecitina de soja e ricinoleato de glicerila e aromatizantes. Contém Glúten. Contém traços de castanha de caju e amendoim.

Ingredientes do chocolate Classic: açúcar, cacau, leite em pó integral, soro de leite em pó, gordura vegetal, gordura anidra de leite, emulsificantes lecitina de soja e ricinoleato de glicerila e aromatizante. Contém Glúten traços de castanha de caju e amendoim.

A única diferença entre os dois é um “s” no plural da palavra aromatizante, no Alpino. Se são estes aromatizantes a mais que o Alpino tem e que estariam presentes no Passatempo, a Nestlé teria que dizer “com aroma de chocolate Alpino” e não “com sabor …”.

Logo a expressão “sabor chocolate alpino” não tem respaldo na lista dos ingredientes do Passatempo. Poderia ser igualmente “sabor chocolate Classic”. Como, pelo jeito, poderia ser sabor a qualquer outro chocolate.

Pelo lado inverso, a Nestlé se aproveita do fato de que é difícil provar que este biscoito, bombadíssimo em açúcar, não tem sabor de chocolate alpino, uma vez que este sabor é um conceito vago e indefinido.

A não ser que o cacau em pó usado neste biscoito venha dos Alpes .

Você tem idéia de por que a Nestlé faria uma coisa dessas com seus clientes?

O site da empresa afirma que “Promover a cultura da boa alimentação, respeitar o consumidor e a identidade de cada povo, valorizar seus colaboradores e aplicar a tecnologia a serviço da vida são preocupações básicas da Nestlé, desde sua origem.” O texto em azul foi destacado por nós.

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Cartilha Orgânicos da ANVISA

De forma leve e bem humorada, como é do seu estilo, o Ziraldo escreveu, para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a cartilha denominada “O Olho do Consumidor”.

A cartilha explica, em 21 páginas, o que são produtos orgânicos, qual a importância do consumidor saber identificar um produto orgânico, mostra o selo SISORG – Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica, que passa a ser obrigatório a partir de 2010, e explica como devem se portar pequenos produtores e restaurantes. Enfim, sintetiza os pontos mais importantes da legislação brasileira sobre orgânicos.

Estamos divulgando a cartilha porque um produto produzido com os critérios estabelecidos para receber o selo de orgânico é menos agressivo ao organismo e ao meio ambiente do que um que não o seja.

E mais ainda, no caso dos vegetais orgânicos, um produto sem agrotóxicos (que a indústria química tenta chamar de defensivos agrícolas) exige que a planta use seus mecanismos naturais de defesa, aumentando a concentração de fitoquímicos nas plantas, tornando-as muito mais úteis ao nosso organismo quando as consumimos. Os fitoquímicos são potentes anticancerígenos e protetores de outras doenças.

Entretanto, o simples fato de um produto ser orgânico não o torna, necessariamente, recomendado pela dieta que defendemos.

Vamos citar dois exemplos de produtos não recomendados.

De olho na tendência de consumo de produtos orgânicos, os supermercados têm dedicado um espaço cada vez maior a este tipo de produto. A variedade também tem aumentado. Tente observar que, em alguns casos, os produtos orgânicos são menores do que seus congêneres não orgânicos. Um bom exemplo é o da cebola. O produto é colhido antes de alcançar a maturidade, visando evitar que seja atingido por alguma praga. Corre-se o risco de o produto não conter os fitoquímicos da planta adulta, resultado de sua luta natural contra as pragas. Ou seja, a cebola arrancada precocemente é um produto orgânico mas nutricionalmente fraco. Se o produtor deixa a cebola crescer, ela lutará contra as pragas. Lutas deixam marcas e nós gostamos de produtos bonitos, lisinhos, uniformes, muitas vezes incompatíveis com o padrão normal da natureza.

Um segundo exemplo é o da galinha orgânica, criada confinada e que só se alimentou de milho orgânico e de ração feita com produtos também orgânicos. Evite-a. Galinhas de verdade comem minhocas e outros bichinhos, gramas, folhas e eventualmente também sementes.

Feitas estas ressalvas, sejam bem vindos os orgânicos e seus conceitos correlatos: sem transgênicos, com proteção da erosão do solo, adubação natural e manutenção da diversidade.

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Livro: Arte de Cozinha

Este livro, que tem como subtítulo “Alimentação e Dietética em Portugal e no Brasil (Séculos XVII – XIX)”, foi editado pelo SENAC – São Paulo e é o resultado de uma tese de mestrado da autora, Cristiana Couto. Foi escrito em 2007 e contextualiza a alimentação no período entre os séculos 17 e 19, com base em livros de receitas, manuscritos e relatos de viajantes. Os livros tratam mais da alimentação da elite enquanto que os relatos dão uma idéia mais ampla da alimentação da população em geral.

Destacamos os seguintes tópicos:

1. O livro cita uma classificação dos alimentos proposta pelo médico Erasmus Darwin (pai do Charles evolucionista, que lhe herdou o sobrenome). Vale a pena repetir a lista:

I. Carnes e peixes:

1. Carnes escuras e aves que se alimentam de insetos.

2. Ostra, lagosta, caranguejo, camarão, cogumelo, enguia, rodovalho, linguado e tartaruga.

3. Cordeiro, vitela e leitão.

4. Peru, perdiz, faisão, galinha e seus ovos.

5. Truta, salmonídeo e gobião.

II.         Leite, creme (ou nata), manteiga, lentelho, soro e queijo.

III.        Raízes, sementes, folhas e frutos:

Trigo, aveia, cevada, ervilha, batata, nabo, cenoura, couve, aspargo, alcachofra, espinafre, beterraba, maçã, pêra, ameixa, abricó, nectarina, pêssego, morango, uva, laranja, melão, pepino, figo seco, amêndoa, açúcar, mel (e outros).

IV.       Águas

Você não entendeu errado nem eu inverti a lista. Primeiro as carnes, como sempre foi e deveria continuar sendo. A sugestão é o inverso da pirâmide alimentar inventada pelos norte-americanos. E atenção para um detalhe: aves que se alimentam de insetos, já naquela época.

2. Como curiosidade, registra-se que o livro mostra que a alimentação foi, e continua sendo, um dos inúmeros mecanismos utilizados para destacar as elites do povo comum. Desta forma, aquilo que era mais raro e mais caro costumava integrar o cardápio das elites, como hoje. E isso nunca teve e continua não tendo relação com a melhor opção alimentar.

3. As bases da medicina da época, fracas e falhas, também repercutiam na alimentação. Assim como hoje somos vítimas do nutricionismo, na época se discutia como os alimentos vegetais eram “animalizados” depois de ingeridos, uma vez que o homem, sendo animal, composto de carne e gorduras, só de alimentos desta natureza poderia se nutrir.

4. Sobre os alimentos consumidos no Brasil, no século 19, o livro cita relatos diversos, dos quais destacamos:

– as importações de produtos para atender à elite, como vinho, azeite, farinha de trigo, biscoitos, bacalhau, presuntos e azeitonas de Portugal; cerveja, queijo e manteiga da Inglaterra; licores e frutas secas da França; e chá, canela e pimenta de Macau.

– a base da alimentação popular, centrada na farinha de mandioca, no fubá (farinha de milho) e no feijão preto, normalmente cozido com toucinho e carne seca salgada.

– as vendas de alimentos nas ruas do Rio de Janeiro: milho assado na brasa, bergamotas em gomos e cana de açúcar em pedaços, manuês (folhados doces recheados de carne), sonhos (fatias de pão passadas no melado) e angu (cozido de carnes, gorduras, hortaliças e temperos).

– o angu e outras formas de cozido faziam parte, na época, tanto das mesas ricas quanto das menos abastadas.

É um livro interessante para ser lido como informação histórica, uma vez que seu conteúdo não tem relação direta com o regime alimentar que defendemos.

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Citação: Pássaros Analfabetos

Um sabiá me disse que o pacotinho de alimentos cientificamente dosados que lhe ponho na gaiola, não vale uma minhoca viva ou uma goiaba madura. O canário explicou-me que durante a fabricação deste cibo racional perdia-se a maior parte do que gostavam os pássaros. Idéias de sabiá e de canários, engaiolados e analfabetos.

Fonte: Livro História da Alimentação no Brasil – Luís da Câmara Cascudo, pág 350.

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